Perguntas e respostas com Greg Lane publicadas pela primeira vez no AusIMM Bulletin, em setembro de 2022. Entrevista reproduzida com permissão.
As plantas de processamento realmente serão tão diferentes no futuro?
As plantas de processamento já estão mudando, no entanto, é mais um caso de melhoria de áreas individuais do que da planta inteira. Você não vai construir uma planta de processamento hoje e substituí-la em cinco anos só porque surgiu uma nova tecnologia. O que importa é o valor. Você a está construindo para 20 ou 30 anos, às vezes mais, porém todos os processos podem ser aprimorados à medida que novas tecnologias se tornem disponíveis.
O que está motivando essa mudança?
A mudança é motivada para a obtenção de melhores resultados em termos de valor. Atualmente, a mudança é movida pela necessidade do uso mais eficiente de água e de energia e pela redução das emissões de gases de efeito estufa. Foi somente nos últimos dois ou três anos que as empresas de mineração nos procuraram solicitando uma avaliação de gases de efeito estufa em seus projetos.
Isso parece ser um progresso rápido para o setor de mineração.
Sim, essa é uma mudança bastante rápida na abordagem, e tudo isso precisa ser gerenciado com cuidado. O objetivo final permanece inalterado: maior valor para os acionistas dentro das estruturas ambientais, sociais e de governança, estabelecidas pelo governo e pela sociedade.
Alguns elementos ambientais são mais urgentes do que outros?
A eficiência hídrica tornou-se a questão primordial de vários projetos em todo o mundo, especialmente, no Chile e no Peru. Há importantes razões sociais para isso. Os projetos de mineração podem ter um impacto real e visível no abastecimento de água das regiões rurais. Consequentemente, há um movimento para aumentar o uso de água dessalinizada ou água do mar bruta para o processamento.
Os investidores também estão exercendo pressão sobre padrões ambientais, sociais e de governança (ESG)?
Os investidores estão aumentando a busca por consciência social nas empresas em que investem, e isso está determinando o modo como as empresas de toda a cadeia de valor da mineração têm refletido sobre a captação de recursos e sobre a forma de atender aos acionistas. Por exemplo, os investidores e as empresas de mineração estão reagindo às pressões sociais quanto aos riscos associados à mineração de carvão no que diz respeito aos gases de efeito estufa e estão procurando estabelecer padrões ambientais e sociais mais elevados.
Nas plantas de processamento do futuro, veremos mudanças em apenas uma ou duas partes ou em toda a cadeia de processamento?
Já estamos vendo mudanças em toda a cadeia de mineração e processamento, desde a detonação até a produção de metais. Estamos buscando a melhor maneira de aprimorar o controle de teor durante a mineração e formas mais eficientes de moer o minério para liberar minerais, possibilitando a reutilização de rejeitos em produtos que possam ser vendidos.
Há algum exemplo dessas mudanças?
Na mina, há áreas de material de baixo teor e material de alto teor. O ideal é controlar o projeto de detonação para manter essas duas áreas separadas, sendo possível transportar o minério de alto teor para a planta com mais facilidade e eficiência. Em seguida, as pás usam sensores para informar às equipes qual é o teor do material que está sendo carregado nos caminhões (resíduo ou minério).
Os sensores nos transportadores (ore sorting a granel) podem agregar ainda mais informação, informando à equipe se o material é de alto ou baixo teor e permitindo que os resíduos sejam descartados de forma adequada. Somente o minério de maior qualidade é processado, economizando energia. Dentro da planta, diferentes formas de moer ou liberar minerais estão sendo exploradas, juntamente com novas maneiras de realizar a flutuação de partículas com um teor muito baixo de metais valiosos. Essas inovações ajudam a reduzir a quantidade de material valioso perdido em resíduos de rocha e a diminuir a energia e a água que usamos para processar o minério valioso.
E quanto à quebra de rochas?
Há um excelente trabalho em andamento com dispositivos de quebra com precisão. Esse é o estágio do processamento em que até 80% da energia da mineração é usada, portanto, é fundamental. Esse trabalho surgirá nos próximos cinco anos e poderá mudar radicalmente a forma como podemos moer o minério, mas há obstáculos significativos na adaptação de todas as boas ideias ao uso industrial.
Há alguma inovação no fim da cadeia de processamento?
Devido aos diferentes estilos de dispositivos de quebra com precisão que estão sendo desenvolvidos, é possível separar partículas grossas e finas com relativa facilidade para que você possa aplicar processos de separação por flotação para atingir frações de tamanho reduzido e melhorar a eficiência da separação. Mais à frente, dentro da cadeia de processamento, vários grupos estão analisando os rejeitos como uma fonte de insumos para produtos industriais, areia, tijolos, materiais de captura de carbono etc. Embora a fundição ainda seja a principal rota de tratamento para o processamento de minerais de sulfeto de cobre, níquel, chumbo e zinco, várias tecnologias de lixiviação estão sendo desenvolvidas para melhor lidar com elementos deletérios ou para serem usadas em pequena escala.
Então em vez de serem meros resíduos,, os rejeitos têm uso econômico?
Bem, a empresa gastou todo esse dinheiro para triturar o material em um tamanho adequado, então, por que não tentar usar os resíduos como um produto e uma fonte de renda? Isso reduz o tamanho das instalações de armazenamento de rejeitos, tornando-as mais fáceis de gerenciar. Há mais pesquisas em andamento sobre a captura de carbono também, usando rejeitos reaproveitados de alguns minérios para absorver CO2, algo que eles podem fazer muito bem.
Por fim, de qual tecnologia, habilidade ou parte do kit todo CEO precisa para ajudar as empresas a concretizar as plantas de processamento do futuro?
Os CEOs são os “capitães do navio”. As habilidades necessárias para gerenciar novas tecnologias são muito parecidas com as de qualquer outra área de seus negócios: saber ouvir e tomar boas decisões. Os capitães encalham ao tentar um atalho e também podem ser deixados para trás se uma nova abordagem não for adequadamente explorada por um navegador confiável. Os responsáveis por novas ideias precisam ser navegadores de sucesso, e não apenas inventores ou profissionais de marketing.